Sunday, November 13, 2005

Pedaços de vidro numa gravata

Sais do trabalho em mais um dia igual a tantos outros. Vês o romeno à porta do edificio a vender aqueles quadros (que no teu entender ate têm pinta) apanhas a carreira 23 - sempre a mesma carreira sempre as mesmas pessoas sempre os mesmos lugares - até à estação do Metro.
Vives num constante vai-vem de faces paisagens cheiros sons até que começas a perder a sensibilidade.
Mero peão de um mundo odioso que quer girar rápido demais correr rápido demais... o abismo não pode esperar!!
Chegas a casa... pousa a mala desaperta o nó da gravata que quase te afoga que quase te mata.
Olha-te no espelho, parte essa cara que está à tua frente recolhe os vidros e mete-os no bolso (todos, que nenhum fique para trás)...

Vai...

(o que te afoga e o que te mata
não é a gravata)

Sobre as Pirâmides

Sobre as Pirâmides está talhada ao longo do tempo a perfeição que provavelmente nunca alcançaremos.
Como se cada estrela nascesse e morresse outra vez criada e destruída vez após vez.
E entre principio e fim entre Primavera e Inverno, a perfeição como factor-comum.

Como os Faraós...

Friday, November 11, 2005

...

"Não penso que o Atrida Agamémnon me persuadirá,
nem os outros Dânaos, visto que não há consideração
para quem luta permanentemente contra homens inmigos.
Igual porção cabe a quem fica para trás e a quem guerreia;
na mesma honra são tidos o cobarde e o valente:
a morte chega a quem nada faz e a quem muito alcança"

(parte da resposta de Aquiles a Ulisses após tentativa de persuação do ultimo para que Aquiles entrasse na batalha e esquecesse a cólera para com Agamémnon)
Ilíada - Homero

Mar

Simpatia de saber acolher e integrar as coisas
ate se confundirem com tudo o resto...

Fotografia

Tira essa foto ao mar.
Sabes que depois aquele mar está diferente: a onda que se levantava já quebrou e estendeu seus braços na areia fina e o barco já não está no mesmo sitio embora assim te pareça.

Monday, November 07, 2005

Canta comigo

Cin...zen...to

Ar

O ar passou a fazer parte de uma solidez que nunca quis respirar e que agora bebo aqui e ali, algures num livro num gato num olhar ou ate mesmo num silencio.

Entretanto

Espinha que corta o fluxo das águas
Rosa que espalha o polen vindo do mar
Carro que levanta o pó da estrada
Que vai da minha praia ate à tua
Lenço abandonado que arde ao vento
Gaivota que o bebe,
E entretanto nasce o dia aqui na praia
E é por-do-sol numa qualquer planicie a Este

Friday, November 04, 2005

...

"Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sola fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunicaa V. Exa.
que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis..."


- Jose Gomes Ferreira

Thursday, November 03, 2005

Retiro

Hoje por hoje tenho tempo.
Estou "preso" a um gesso que durará no minimo 3 semanas... Uma entorse a rasar a fractura pôs-me assim, em casa, com tanto que fazer tanto que viver...
É como se este momento que estou a passar fosse como um retiro, uma pausa no meu dia-a-dia, uma especie de suspenção para a vida.

Estou aqui, "parado" e sei que tenho, no minimo, um café com uma mulhe para tomar, umas saidas à noite para viver, uns copos lá no bar pra beber (ainda ontem era suposto ir tomar um chá a S.João da Madeira), um concerto pra ver, enfim...tanta coisa!
E sei que tudo isso está à minha espera.

Confesso que no primeiro dia de "exilio" "bati um bocado mal"... Foi muito dificil devido ao ritmo de vida que tenho habituar-me a esta monotonia de dias iguais.
A primeira pessoa conhecida que me viu assim de muletas e me perguntou o que se tinha passado deu-me uma resposta de uma certa forma tranquilizadora. Disse-lhe o que se tinha passado comigo, ao qual ele me respondeu - "deixa lá, eu na tropa parti os dois joelhos ao mesmo tempo" - e contou-me o episódio. Afinal, pensei eu, não é assim tão grave aquilo por que passo.

Hoje, cada vez mais penso que todos deveriam passar algum tempo "presos" em casa.
Acabámos por ter aquele tempo para nós proprios que em condições normais não temos.

Acabámos por ver o mundo com outros olhos.

Genesis

Gota a gota...
Ponto por ponto...
Devagar...
Em silencio, eis a Genesis deste blog.